Luisa Fernandes
Testemunho de doente
08-09-2017
…Gastei 2 anos da minha vida a combater a doença mas saí vencedora. Já passaram 19 anos e contínuo em remissão."
Em Agosto de 1994 fiz umas férias de 3 semanas no estrangeiro que, à partida, sabia não irem ser dias de descanso. Nunca imaginei, contudo, constituírem um esforço tão grande. Foram dias penosos. O levantar era um sacrifício, caminhar era cansativo. “Arrastei-me”, literalmente, durante esse período.
Em Setembro surgiu uma dor intensa, que dizia ser na perna, mas que mais tarde fiquei a saber ser no ilíaco. Quase em simultâneo apareceu a tosse. Era intensa e, por vezes, levava-me quase ao vómito. Depois apareceu uma febre irregular e muita comichão no corpo. Como tinha uma vida profissional muito preenchida fui resolvendo estes sintomas, que nunca imaginei estarem todos ligados, com medicamentos para suprimir o mal estar.
Em Janeiro de 95, apesar de já ter 40 anos, a minha mãe obrigou-me a fazer um rx ao tórax. No relatório vinha a suspeita: Linfoma. A partir daqui foi uma correria: exames, análises, biópsias e o veredito final chegou: Linfoma de Hodgkin com suspeita de infiltração óssea. O caminho para me ver livre da doença, que eu sabia mais ou menos o que era, foi feito no Egas Moniz: 6 meses de quimioterapia, de 15 em 15 dias. Quando este período chegou ao fim foi-me dito que tinha mais 3 meses de quimio pela frente. Esta notícia derrubou-me. Tinha a minha cabeça formatada para 6 meses e não para 9.
Em Novembro de 95 acabaram os tratamentos de quimioterapia mas dei início a radioterapia no osso ilíaco. Durante esta difícil caminhada fiz uma promessa a mim própria: a doença e os tratamentos só iam alterar a minha vida e as minhas rotinas nos dias em que não conseguisse estar de pé. Depois dos tratamentos de quimioterapia, assim que conseguia levantar a cabeça da almofada, ia trabalhar, saia com os amigos, ia às discotecas, apesar de ter andado de canadianas durante um ano. Estive em remissão durante um ano e alguns meses.
Em Março de 97 o Linfoma voltou. Tive de fazer três ciclos de quimioterapia “mais pesada”. Quando alcancei de novo a remissão fui proposta para fazer um autotransplante de medula no IPO. Fui internada a 13 de Outubro de 1997 e tive alta a 4 de Novembro. Apesar do tratamento ser um pouco assustador, face às complicações que possam surgir, decidi submeter-me ao transplante e estou satisfeita por assim ter decidido. Gastei 2 anos da minha vida a combater a doença mas saí vencedora. Já passaram 19 anos e contínuo em remissão.
